O dia 27 de janeiro foi declarado
pelas Nações Unidas como o Dia Internacional da Comemoração em memória das
vítimas do Holocausto.
O dia 27 de janeiro é a data que, em
1945, ficou marcada pela libertação do maior campo de extermínio nazi de
Auschwitz, pelas tropas soviéticas, no fim da II Guerra Mundial.
Esta iniciativa pretende preservar a
memória deste trágico acontecimento, sensibilizando a memória das novas
gerações para a dimensão e consequências do genocídio, para que estes
acontecimentos não se repitam.
Quando os nazis vieram buscar os comunistas,
eu fiquei em silêncio;
eu não era comunista.
Quando eles prenderam os sociais-democratas,
eu fiquei em silêncio;
eu não era um social-democrata.
Quando eles vieram buscar os sindicalistas,
eu não disse nada;
eu não era um sindicalista.
Quando eles buscaram os judeus,
eu fiquei em silêncio;
eu não era um judeu.
Quando eles me vieram buscar,
já não havia ninguém que pudesse protestar..
Martin Niemöller
Adolf Eichmann (1906-1962)
Tenente-coronel
das SS e um dos responsáveis pelo genocídio de milhões de judeus, ciganos, homossexuais…
Em fuga desde
1945, foi capturado na Argentina pelos serviços secretos de Israel que o
levaram para ser julgado, sendo considerado culpado pelos crimes de que era
acusado. Foi condenado à morte
Declaração
final de Eichmann, em Jerusalém, durante o seu julgamento (1961)
“Ouvi a pesada condenação pronunciada
pelo tribunal e perdi todas as esperanças de encontrar aqui justiça, não posso
reconhecer esta condenação. Compreendo muito bem que se exija que os crimes
cometidos contra os judeus sejam expiados [...]. Tive a
infelicidade de me ver envolvido nestes horrores, o que não foi fruto da minha
vontade, não tive a intenção de matar homens. São os próprios dirigentes
políticos os únicos responsáveis deste assassinato coletivo [...]. Neste
momento ainda sublinho uma vez mais: a minha culpa reside na minha obediência,
no meu respeito pela disciplina e nas minhas obrigações militares em tempo de
guerra, no meu juramento de fidelidade que prestei quer como soldado, quer como
funcionário [...]. Acuso os
governantes de terem abusado da minha obediência, que era exigida naqueles
tempos, como também será exigida no futuro a qualquer subordinado [...]. A obediência
encontra-se entre os virtuosos [...] eu sou uma
vítima. Pretende-se alegar que eu devia ter desobedecido [...]. Naquelas
circunstâncias uma atitude destas era impossível, ninguém tinha a coragem de se
comportar desta maneira [...]. Tive de me
curvar a valores que eram ditados pelo Estado, contrários àqueles que eu queria
servir. Tenho de suportar o que o destino me reserva.”
Hannah Arendt, Eichmann em Jerusalém – Uma reportagem sobre
a banalidade do mal, Tenacitas, Coimbra, 2003, pp. 15-19.
É aceitável a “banalidade do mal” sem limites?
Qual
o dever do indivíduo perante a sua consciência?
Quais
os limites da obediência?
Qual a importância de ter coragem
para dizer “não”, quando todos dizem “sim”? Qual o papel do indivíduo na
sociedade onde está inserido?
O bem supremo da consciência
A minha condenação por mim mesmo
é mais enérgica e inflexível que a feita por juízes [...]
a pressão exercida pela minha consciência é mais forte e severa. [...] Se a ação não refletir de algum
modo o esplendor da liberdade, não tem nada de meritório ou de honroso.
Montaigne, Ensaios – Antologia (1580), Relógio
D’Água, Lisboa, 2016, p. 248.
O valor da consciência moral e do “esplendor
da liberdade”, são convocados para os nossos dias…
O genocídio que
ocorreu nos campos de concentração e de extermínio correspondeu à negação dos
direitos humanos em nome de causas ideológicas.
Aqueles que
cometeram estas atrocidades rejeitaram os valores essenciais da vida humana e
do respeito pelo Outro.
A formação de
um juízo crítico, responsável e consciente é essencial na construção de uma
sociedade tolerante, moderada e aberta à diferença.
Às gerações
mais novas cabe manter vivo este legado, em que o passado deve servir apenas
como lição histórica para que atrocidades como estas não se voltem a repetir.
A
permanência do desrespeito pelos valores humanos
A propósito do
Dia Mundial das Vítimas do Holocausto, que hoje se assinala, Esther Mucznik
adiantou que esses sinais são visíveis por exemplo nos atentados
terroristas contra o semanário satírico francês Charlie Hebdo ou contra um
supermercado judaico, em Paris:
Apesar
do contexto histórico ser completamente diferente […] a verdade é que há
elementos comuns. Por exemplo, no facto de pessoas se arrogarem o direito de
decidir quem deve partilhar o planeta em que todos vivemos seja em nome do
nacionalismo, seja em nome de Deus, seja em nome da religião”, disse a
vice-presidente da comunidade judaica de Lisboa. “É um fenómeno que agora
aconteceu em Paris, mas que tem acontecido ao longo das décadas e foi levado a
um extremo no século XX com o Holocausto”, acrescentou. “Na verdade, continuam
a existir grupos humanos que consideram que têm o direito de tirar a vida a
outros por diferentes razões”, sublinhou a presidente da associação Memoshoa,
que promove em Portugal o Dia de Memória do Holocausto. [...]
ALGUNS DOS GENOCÍDIOS
NO SÉCULO XX
Genocídios no Império Otomano (1914–23)
Genocídio soviético (1932–33) e na Polónia (1937–45)
Holocausto e genocídio - Solução Final (1941–44)
Genocídio no Bangladesh (1971)
Genocídios no Burundi (1972 e 1993)
Genocídio em Timor Leste (1974–99)
Genocídio no Camboja (1975–79)
Genocídio na ex-Jugoslávia: na Bósnia
(1992–95) e em Srebrenica (1995)
Genocídio no Ruanda (1994)
Genocídio dos Rohingya (Myanmar)
Genocídio dos Uigures (China)